quinta-feira, 21 de março de 2013

Dia Mundial da Poesia

A um Homem do Passado

Estes são os tempos futuros que temia 
o teu coração que mirrou sob pedras, 
que podes recear agora tão fundo, 
onde não chegam as aflições nem as palavras duras?

Desceste em andamento; afinal era
tudo tão inevitável como o resto.
Viraste-te para o outro lado e sumiram-se
da tua vista os bons e os maus momentos.

Tu ainda tinhas essa porta à mão.
(Aposto que a passaste com uma vénia desdenhosa.)
Agora já não é possível morrer ou,
pelo menos, já não chega fechar os olhos.

Manuel António Pina, in "Nenhum Sítio"

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