terça-feira, 21 de maio de 2013

Reportagem sobre a Guerra do Ultramar

A edição n.º 103 do jornal Região do Castelo, nas bancas, dá-lhe a conhecer testemunhos de ex. combatentes penelenses envolvidos em operações militares nas antigas colónias africanas - dos quais aqui deixamos algumas passagens.
Fernando Antunes: "Este parágrafo é para deixar vincado e reconhecer que nem todos pensavam assim! Nunca me passou pela mente a ideia de deserção que aliás, na altura, concretamente àqueles a quem cabia a sina (triste!) de ter que ir para a Guiné era uma ‘tentação’ justificada já que o voltar era incerto! Talvez por isso dois alferes da minha Companhia de Artilharia 3417 (que de artilharia só tinha o nome já que éramos atiradores mas de G3!), comandantes do 3.º e 4.º pelotões, nas vésperas da partida, tenham desertado! A minha convicção é de que o fizeram por medo e a França na altura era mais segura! Digo isto porque alguns deles, aquando do 25 de Abril, ainda regressaram aos ombros, com o rótulo de antifascistas!..." 
Fernando Júlio: "Uma guerra que ao longo de tantos anos, e por todas as principais províncias ultramarinas, apenas serviu para causar a perda de um número de vidas incalculável. Que causou traumas que ainda hoje ‘machucam’, e de que maneira, muitos daqueles que por lá passaram. No que me diz respeito e àqueles que formaram esta ‘família’ do Bat. Caç. 1878, tudo o que de mau nos possa ter acontecido não foi por falta de preparação tanto militar como psicológica. Sabíamos ao que íamos e um pouco daquilo que nos esperava. Fomos um Batalhão com um número muito pequeno de perdas, o que nos deixa bastante orgulhosos. O lema do nosso Batalhão é significativo: ‘Conduta Nobre e Brava’."
José Jaulino: "A Revolução de 25 de Abril de 1974 teve o condão de acabar com a guerra e fazer a descolonização. Mas penso que devia ter acontecido antes para acabar com a guerra mais cedo. Fiz a minha comissão, tenho louvores e estou vivo, mas as recordações não são boas e hoje ainda sofro de stress de guerra. Também houve alguns bons momentos e até gostava de (re)visitar Luanda.”
José Bastos: "Passado um ano tínhamos as viaturas estoiradas e grande parte dos militares psicologicamente abalados. Era tempo de mudança. Fomos rendidos por volta de abril de 1962 quando começaram a aparecer as minas anticarro, inicialmente artesanais que explodiam à passagem da primeira viatura. Como defesa utilizávamos uma viatura pesada na frente da coluna, carregada com sacos de areia e as atingidas poucos estragos sofreram. Felizmente nunca fomos atingidos o que não aconteceu com outros."
José Zuzarte: "Muita gente morreu sem necessidade. Foi tempo perdido e dinheiro mal gasto. Não trouxe nada de bom, só fez nascer ódio. Acho que a Revolução de 25 Abril tinha que acontecer mais cedo ou mais tarde. Mas acho que aconteceu tarde. Devia ter sido antes para não morrer tanta gente. Durante a guerra senti algum medo, principalmente nos primeiros dias. Mas depois acho que nem pensávamos naquilo que fazíamos. Penso também que a experiência da tropa que ia de Portugal era pouca. Estava mal preparada para o teatro de guerra.”
Júlio Simões: "Mas o espírito do soldado era o de defender a Pátria, longe da verdadeira Pátria é certo. Se era justa a guerra? Para o governo português era mais do que justa, para os soldados eram ‘paus mandados’, pois muitos não sabiam ao que iam, o que iam fazer, para onde iam. Eu, como radiotelegrafista, sabia muito do que se passava tanto do lado português como do lado do inimigo. Era guerra pura, pois era um verdadeiro teatro de guerra. A minha grande satisfação foi a de não ter morto ninguém e também não fiz mal a ninguém."

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