terça-feira, 9 de julho de 2013

Editorial

A história do louco…

Rosa Henriques. Minha Professora de Português no 1.º e 2.º Ano do “Ciclo”. Aulas muito agradáveis, nas quais falávamos de tudo um pouco, desde livros, teatro, cinema (disse-nos a dada altura: “Quando virem um filme não deixem de ler a Ficha Técnica pois lá estão os nomes de todos aqueles que trabalharam para que a obra final se tornasse realidade”); o contacto com a natureza (que depois, na sala, “pintávamos” com palavras); o gosto por contar e ouvir histórias (para uma redação lançou-nos o desafio de escrevermos sobre uma pessoa idosa, não da nossa família, mas com quem convivêssemos e contactássemos – escrevi sobre a Mariana, uma velhinha sozinha que connosco brincava, ria e sorria, partilhava valores, carinho, amizade); o gosto e o respeito por esta nossa Pátria que é a Língua Portuguesa (desculpe, “Setora”, as calinadas no Português que por vezes teimosamente persistem, isto apesar de procurarmos tratá-lo com o respeito devido que nos ensinou). Com a recordação da Prof.ª Rosa Henriques, a que mais me marcou positivamente, presto a minha homenagem a todos os Professores, agentes fundamentais no Ensino/Educação das crianças e jovens. E adultos…

Sim: e adultos. Pelo reencontro com a história que, felizmente, alguns governantes e autarcas se vão preocupando em fazer (a Universidade Sénior de Penela, aberta a todos, é disso um excelente exemplo). A propósito do passado. A dada altura de um debate parlamentar, na sequência de “mimos” dirigidos das galerias aos Deputados, José Manuel Canavarro pediu a palavra para defender a honra da mãe. Um procedimento regimental certamente pouco habitual, mas que compreendemos por condenarmos o insulto fácil e gratuito e por concordarmos que nada vale e nada resolve. Mas na mesma medida em que defendeu a honra de sua mãe, peço ao Sr. Deputado que defenda a dignidade da minha, que, em tempos muito difíceis, saiu de casa para trabalhar aos… 7 anos de idade. Tanta coisa ficou para trás… Trabalhou toda a vida e hoje, com uma parca reforma, é considerada rica pelo Governo que Vossa Excelência galhardamente defende. Defenda a honra da sua mãe, Sr. Deputado, com todas as suas forças. Mas eu também lhe exijo que defenda a dignidade da minha e a de todos os idosos a quem as políticas seguidas conduzem preocupantemente à precariedade!

Não deve ser muito confortável, aliás, ser Deputado. Compreende-se a disciplina partidária, porque não se pode estar dentro e fora ao mesmo tempo, mas, por exemplo, com que cara ficam os Deputados quando é o próprio Governo que cegamente defendem que vem depois dar o dito por não dito, que vem tomar medidas que há muito deviam ter sido tomadas, que vem defender e aplicar o que há muito é sugerido e proposto pela Oposição, que vem justificar atabalhoadamente as previsões e os números que apresentou e defendeu. De que valeram as palavras inflamadas? De que valeram as palmas? De que vale, assim, ser Deputado?

O atual Governo faz lembrar a história do louco, que vai ao médico e lhe diz: “Sr. Dr., eu estou bem da cabeça mas à minha volta está tudo maluco”. De todos os setores e quadrantes políticos, desde patrões e empresários a ilustres militantes do principal Partido do Governo, são muitas as vozes que condenam as políticas implantadas por Pedro Passos Coelho, mormente o caminho intransigente da austeridade, contrário aos crescimento económico e à criação de emprego. Caminho que o Governo insiste em trilhar, justifica, pelo equilíbrio das contas públicas, pela consolidação orçamental e pela credibilização da imagem externa. Metas importantes, sem dúvida, mas que não podem ser atingidas à custa dos “cadáveres” que vão ficando pelo caminho. É imperioso que os atuais governantes saiam dos gabinetes e constatem que há portugueses a sucumbir perante a austeridade imposta. Basta!

Nem de propósito. Escrevíamos estas linhas quando soubemos da demissão de Vítor Gaspar, ao cabo de 740 dias como ministro das Finanças. Não se estranha a saída do todo poderoso ministro, vítima do caminho que impôs ao país (por exemplo por não ter percebido que quem verdadeiramente faz criar empregos são os consumidores e não os empresários). Estranha-se, isso sim, a escolha de Maria Luís Albuquerque para lhe suceder. Porque é um claro sinal de que Pedro Passos Coelho pretende manter as mesmas políticas; porque o próprio Governo contraria a imagem de credibilidade que exige aos portugueses; e porque, seguramente, nos próximos dias vai-se falar mais de swaps e menos do que é realmente importante para o crescimento do país…           


António José Ferreira

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